Conto de Natal - Parte II

10:43 PM


 E como prometido, aqui está a segunda parte do conto. Não ficou grande coisa, nem sei se vocês vão conseguir entender o pequeno e bobo significado dele, mas eu fiz com amor hahahahah
 Quem não leu a primeira, pode ler aqui.
 Feliz Natal, pessoal.





(...)

 – Tudo bem, agora você deve achar que eu estou te perseguindo mesmo.

 Olho para cima depois de me sentar no lugar que minha passagem indicava como meu e vejo a garota ruiva sorrindo para mim. Desta vez ela está carregando apenas sua necessaire e bolsa, a mala gigante se foi.

 Eu a observo colocar ambas as bagagens pequenas no lugar e sentar-se ao meu lado, não digo uma palavra porque estou confuso com a situação.

 – Você está indo para Nova Iorque também? – faço a pergunta mais óbvia de todas.

 Ela ri mais uma vez.

 – Acho que sim. Este vôo vai para lá, não é?

 Não respondo, fico sem saber o que fazer, o que é totalmente ridículo. Por que eu estou agindo como um idiota? É só uma garota, não é como se eu nunca tivesse falado com uma.

 Ela está mexendo no celular, aparentemente enviando uma mensagem. Decido parar de olhá-la antes que alguém ache que sou algum maluco.

 – Indo à trabalho? – ouço-a perguntar.

 – Não. Voltando. – respondo sem desviar os olhos da janela do avião. Vejo alguns trabalhadores ainda retirando neve da pista.

 – Eu também. Quer dizer, eu não estava aqui a trabalho, na verdade eu estava visitando meu irmão e a esposa dele. Eles acabaram de ter uma filha, uma menininha linda que eu ainda não havia conhecido porque estava trabalhando sem parar em Londres. Mas agora eu estou voltando para a casa dos meus pais para passar o fim de ano.

 Não consigo evitar e a encaro novamente, ela cala-se e percebe que estava falando demais.

 – Desculpe, eu sei que às vezes eu falo demais – ela sorri e eu me pergunto se ela não cansa de demonstrar tanta alegria o tempo todo.

 – Tudo bem. – eu lhe digo.

 – Aliás, me chamo Meredith.

 Ela estende-me a mão em cumprimento.

 – Adam. 

 Aperto sua mão, sua pele é macia mas está fria como gelo.

 – Desculpe. – ela diz quando percebe minha reação ao tocá-la.

 – Você está congelando. 

 – Perdi minhas luvas. – ela confessa, como se tivesse cometido um crime.

 – Por que você diz isso como se tivesse cometido um crime? – pergunto.

 Consigo notar ao fundo a voz do capitão apresentando-se e desejando a todos uma viagem confortável.

 – Por que é um crime. Foi presente da minha avó.

 Eu rio, é inacreditável, mas eu rio como se estivesse conversando com uma pessoa que me conhece há anos. Uma mulher que está sentada na poltrona do outro lado do corredor me olha como se eu estivesse surtando, mas eu mal noto.

 – Por que está rindo?

 – Desculpe, desculpe. – eu digo depois de me recuperar. – É que você pareceu tão culpada. 

 – E eu estou. – ela diz – Ganhei aquelas luvas quando tinha 16 e prometi usá-las sempre. Minha avó que fez, especialmente para mim.

 – Quantos anos você tem? 

 – 23, por quê?

 – Nada.

 Ela entende minha pergunta tardiamente.

 – Ei! Não me julgue. Você deve ter a minha idade.

 – Não. Tenho 26.

 – Rá! Grande coisa, só três anos. E eu aposto que você já fez promessas desse tipo para a sua avó. 

 De repente o clima extrovertido acaba.

 – Não, na verdade não. – digo.

 – O quê? Nunca? – ela continua sorrindo, sem notar minha expressão.

 – Não. 

 Meredith parece notar minha postura e não faz mais perguntas. Permanecemos em silêncio por algum tempo.

 O avião já está no ar por cerca de 40 minutos quando uma das comissárias aproxima-se e oferece as opções de petiscos e bebidas.

 – Uma água. – peço e ela entrega-me uma pequena garrafa.

 – Um café preto. – responde Meredith.

 – Vai no tradicional, desta vez? – pergunto.

 Ela sorri.

 – Só às vezes.

 A comissária entrega-lhe uma xícara de café preto que Meredith adoça em questão de segundos e com tanta prática que ela nem prova para ver se está bom. De repente ela olha para trás, eu sigo seu olhar.

 – É melhor você correr. – digo.

 – O que?

 – Aquela senhora ali – apontei para uma mulher baixa e gorda que estava lutando para sair de seu acento – não está com cara de que vai sair rápido do banheiro.

 Ela riu.

 – Tem razão. Foi uma péssima hora para pedir café.

 – Deixe que eu seguro.

 – Obrigada. Eu não aceitaria se não estivesse tão apertada.

 Eu rio.

 – Tudo bem.

 Meredith levanta-se sem notar que está com o celular no colo, e eu só tenho tempo de ver em câmera lenta quando o celular cai no chão.

 – Droga. – reclama ela baixinho.

 Decido ajudá-la, mas quando tenho a ideia de pegar o celular do chão, ela tem a mesma ideia e nossas cabeças chocam-se no meio do caminho.

 – Ai! – ouço-a reclamar assim que há o choque.

 Ela levanta-se rapidamente com a mão na testa. Minha cabeça também dói. Bastante, pois ela tem uma cabeça dura e tanto. 

 De repente o avião dá um solavanco muito forte e o café que estava em minha mão derrama-se em meu casaco.

 – Ai meu Deus! – exclama Meredith.

 – Está tudo bem. – digo – Não foi nada.

 Tento acalmá-la, mas Meredith se desespera com a cena, provavelmente imaginando que me queimei bastante, mas o fato é que o café estava tão frio que só o senti porque a manga do casaco ficou ligeiramente gelada.

 – Está doendo? Quer que eu chame a comissária?

 – Não, claro que não. O café estava frio.

 – O que? Frio?

 – Sim. – digo, enquanto tiro o casaco. Por sorte o tecido é tão grosso que não chega a sujar meu paletó.  

 Ela senta-se novamente.

 – Desculpe.

 – Pelo quê? Não foi culpa sua.

 Ela permanece em silêncio, olho-a e vejo sua expressão de culpa.

 – Vamos fazer assim: quando chegarmos eu lhe pago um café, ou uma água, ou qualquer outra coisa que você quiser. – ela propõe, e estranhamente ou não, eu gosto da ideia.

 – Tudo bem, então. – digo.

 Ela sorri em satisfação.

 – Você não ia ao banheiro ou algo assim? – pergunto em um tom leve.

 – É mesmo! – ela ri e levante-se mais uma vez, indo em direção do banheiro.

 Quando retorna, com ela também vem a conversa novamente. E desta vez eu participo. É muito estranho para mim conversar com alguém apenas para passar o tempo, mas suas perguntas são perpicazes e minha boca simplesmente recusa-se a ficar calada.

 Conversamos até o momento em que o capitão anuncia a chegada à Nova Iorque.

 Olhei pela janela e vi a cidade iluminada ao longe.

 Nunca fui fã do Natal, jamais comemorei a data ou sequer me senti mal por isto. Mas devo admitir que as luzes da cidade sempre ficam mais bonitas nesta época do ano.

 Quando finalmente sentimos o solavanco do avião pousando, a sensação foi de alívio. O ar parecia mais leve, e muitas pessoas sorriam sem aparentemente nenhum motivo específico além do sentimento de estar em casa.

 Meredith e eu caminhamos juntos até pegarmos nossa bagagem. Quando a dela chegou, lembrei-me da primeira vez que a vi, comecei a me sentir mal por tê-la julgado de uma forma tão errônea. Ela não era uma garota atrapalhada, desmiolada ou sequer alguém fútil e desorientada. Muito ao contrário. Ela fora a primeira pessoa em todo o tempo que já passei viajando, que conseguiu fazer meu tempo de viagem parecer tão curto e assustadoramente divertido.

 A sensação era estranha, mas libertadora.

 – Ei, quer conhecer minha família? – perguntou ela.

 Minhas sobrancelhas franziram-se. Ela riu.

 – Não se preocupe, eles são legais. Estão me esperando na saída.

 Pensei rapidamente no assunto; eu não tinha nenhum talento para ser simpático com outras pessoas. Aliás, meu talento era estritamente conversar com outras pessoas no trabalho, a respeito de assunto do trabalho. Mas Meredith havia conseguido me fazer falar mais em um vôo do que eu já falara em anos no trabalho.

 – Tudo bem. 

 Quando chegamos ao desembarque, um grupo de mais ou menos doze pessoas estava toda reunida logo no início da saída. Todos estavam usando tocas de Papai Noel, um casal jovem que estava na frente segurava um cartaz com os dizeres "BEM-VINDA DE VOLTA, MERI".

 Tive vontade de dar meia volta e fingir que não havia entendido o convite de Meredith, mas já era tarde demais, ela soltou a bagagem no chão e correu para abraçar um casal mais velho que estava bem na ponto do grupo. A mulher tinha cabelos castanhos e o homem era ruivo como Meredith, mas fisicamente ela parecia-se mais com ela do que com o homem.

 Eu não sabia como reagir. Nunca tinha visto uma família tão grande e feliz. Onde é que eu estou com a cabeça? penso ao me dar conta de que estou parecendo um idiota parado alguns metros longe da família, ao lado das malas de Meredith.

 Decido deixar para lá e recomeço a andar. Ninguém percebe minha saída. Olho mais uma vez de relance para ela, que está tão feliz abraçando e cumprimentando todos que tenho certeza de que não irá dar por minha falta muito cedo.



 24 de Dezembro, 22:38 da noite, horário local.


 O aeroporto JFK está tão lotado que é difícil andar em direção à saída. Começo a me perguntar se meu motorista já está a postos. Espero que sim, pois não aguento mais nenhuma hora extra dentro de um aeroporto lotado.

 Quando saio para fora, vejo os primeiros flocos de neve descerem até o asfalto negro. O movimento de carros é caótico. Procuro no mar amarelo um sedã preto e o avisto do outro lado da rua. Sigo em frente, ignorando o desconforto que sinto ao me afastar do aeroporto.

 Acho que fiquei tempo demais dentro de um. 

 Atravesso a rua e cumprimento Henry, meu motorista. Ele pega minha pequena mala enquanto eu me dirijo ao banco do carro.

 – Adam! 

 Ouço uma voz me chamar no meio do barulho de buzinas e músicas natalinas.

 – Adam!

 Olho para o outro lado da rua e vejo Meredith acenando freneticamente para mim. Ela atravessa a rua e vem em minha direção.

 – Por que você fugiu? – perguntou ela, sem fôlego.

 – Não quis incomodar. – repondo na defensiva.

 – O quê? Que besteira.

 Não tenho uma desculpa melhor, então resolvo terminar a conversa por isto mesmo e me despedir.

 – Preciso ir.

 – Espere, para onde? 

 Ignoro sua pergunta.

 – Foi bom conhecê-la. – digo, Meredith desmancha seu sorriso e me observa sem entender – Feliz Natal.

 Viro-me na direção do carro, Henry já está esperando com o motor ligado.

 – Adam.

 Meredith chama mas eu finjo não ouvir.

 – Adam! – ela grita, mais alto que o som de carros ao redor, eu olho para ela novamente. – Eu estou te devendo um café.

 Por alguns segundos não entendo o que ela quer dizer. Então me lembro do avião e da conversa interminável que tivemos durante toda a viagem. Não consigo evitar o sorriso que vem de dentro para fora.

 – Que tal um Irlandês? – digo.





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3 comentários

  1. Ai que fofo, Sara. Adorei, mas eu seria chata se pedisse mais? ahuahuahuah Eu amei, a Meredith só me ganhou mesmo ein?! Que personagem ótima, e o Adam... não sei porquê, mas eu amo já. XD
    Gata, tens talento visse?! Parabéns mesmo. Amei. :3
    Beijos
    Lendo & Apreciando

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    1. PS: Eu te marquei em uma tag (de novo!) kkk

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    2. AUEHEHUAAEUAEHUUAHEUHEA obrigadaaaaa
      Você sabe que eu adoro ser indicada pra responder Tag's, pode me indicar sempre. ;D

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